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quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Guia simplificado de pós-processamento de fotos de aves no Adobe Lightroom

* por Adaltro Cristiano Zorzan, com participação de Dante Andres Meller
O fotógrafo indiano Prathap, autor do blog Nature Photography Simplified, preparou um guia prático e eficiente para o pós-processamento de fotos de aves usando o Lightroom.

Ele usa a versão 04 do programa, que aqui será chamado, simplesmente, de LR.

Abaixo segue uma adaptação/tradução do post do Prathap, esperamos que seja útil!

Como você irá notar, o processamento de fotografia de aves (e outros tipos de animais, acredito) deve ser simples, pois exageros deixam a imagem muito artificial. Por experiência própria, sei que em muitos casos a ave só “permite” que se faça uma única foto dela, e essa foto nem sempre sai como gostaríamos. Em casos assim, o pós-processamento pode ser de grande utilidade para o observador/fotógrafo de aves. Contudo, nunca é demais lembrar que o objetivo do pós-processamento não é “salvar” uma foto que não ficou boa, mas deixá-la mais impactante, chamando a atenção para aquilo que o fotógrafo considera mais importante, ou seja, para a mensagem que o fotógrafo quer transmitir. Afinal, nada substitui uma foto bem composta e, principalmente, bem exposta (nem muito clara, nem muito escura), questão que poderá ser abordada em outra oportunidade.

Adquirindo o Adobe Lightroom e a importância de fotografar em RAW

Antes de tratar do pós-processamento é importante saber como adquirir o programa de processamento de imagens Adobe Lightroom. A maneira mais simples é acessar o site www.adobe.com.br e depois acessar o link “Creative Cloud”. O Adobe Creative Cloud é um programa de assinatura de alguns dos softwares da Adobe. O mais simples deles (Fotografia) custa R$ 42,00 por mês e disponibiliza, entre outros, o Adobe Lightroom e o Adobe Photoshop. Vale a pena conferir.

Agora que você já sabe como adquirir o programa de que vamos tratar no post, é hora de pensar seriamente em fotografar em RAW, em vez de JPEG. As câmeras DLSR permitem que o fotógrafo escolha o formato de imagem a ser gerado, cabendo o fotógrafo optar por JPEG, RAW, ou ambos. Ao fotografar em RAW, a câmera captura tudo, todos os tons claros, escuros e o que estiver pelo meio, deixando que você lide com isso no momento da edição da imagem. Isso vale para qualquer fotografia que você queira tirar, e com relação à qual você deseje ter controle total sobre cor, contraste, brilho e outros aspectos, já que o arquivo não perde qualidade com esses ajustes. No caso da fotografia de aves, fotografar em RAW pode ser útil quando se fotografa em condições de contraluz ou baixa luminosidade, ou mesmo quando algumas características da ave acabam “escurecidas” devido às condições do ambiente (aves do interior da mata, por exemplo).


Como esse não é o tema principal do presente post, não vamos nos aprofundar, por hora, no assunto dos arquivos RAW. Pesquise sobre o tema e encontrará muito material interessante. Além disso, faça o teste: vá a campo e faça algumas fotos em RAW e outras em JPEG e compare o resultado no momento de fazer aquelas correções nas imagens antes da publicação. Você vai se surpreender.

Passo 1: importação do arquivo RAW

Prathap trata de importação em um post exclusivo, mas entendo que a questão pode ser abordada nesse momento sem maiores problemas.

Abra o LR no modo “Biblioteca”, clique em “Criar nova pasta”, depois em “Adicionar pasta” e escolha o local onde está o arquivo a ser importado, que pode, inclusive, ser o próprio cartão de memória.

Importando imagens para processá-las no LR.

Passo 2: selecionando imagens

Na tela que aparece a seguir, selecione as fotos que deseja importar (como padrão, o LR seleciona todas as fotos da pasta) e clique em importar. Nesse momento, você pode aproveitar para inserir “palavras-chave” que o ajudarão a localizar suas fotos no futuro.

Selecionando as imagens e inserindo “palavras-chave”.

Passo 3: trabalhando no módulo REVELAÇÃO

Após importar as imagens que você deseja processar, você está pronto para começar. Para isso, clique em “Revelação”.

Trabalhando no módulo “Revelação”.

Passo 4: cortar e endireitar

Use a ferramenta “sobreposição de corte” para cortar e endireitar a imagem, se necessário. Na foto abaixo, pode-se cortar um pouco a imagem para aproximar o sujeito e usar a ferramenta “ângulo” para alinhar a foto horizontalmente conforme a cerca em que a ave está pousada. Para usar essa ferramenta, você desenha uma linha no horizonte ou sobre um objeto ou referência que deveria estar na posição horizontal. Esta ação irá “endireitar” a imagem.

Nesse passo, você pode aproveitar para compor ou recompor a imagem, ou seja, ajustar os elementos que formam a cena fotografada. A “regra” de composição mais difundida é a Regra dos Terços, que é uma maneira de tornar a imagem visualmente harmoniosa e interessante para quem a vê. A Regra dos Terços é a mais conhecida, mas não é a única, sendo a Proporção Áurea (Golden Rule) também muito popular. Para saber um pouco mais sobre o assunto, você acessar esse link: http://nadaperfeita.com.br/dicas-de-fotografia-regra-dos-tercos-e-proporcao-aurea/.

Compondo ou recompondo a imagem.

Passo 5: configure o balanço de brancos

Ao fotografar, o modo automático de balanço/equilíbrio de brancos (chamado de “EB” no LR) é o mais adequado para a maioria das situações. A fotografia usada como exemplo não precisa de ajuste de balanço de brancos, então se pode deixar o ajuste em “como fotografado”. Nessa etapa, você também pode fazer algum ajuste de temperatura e cor, se julgar necessário, buscando resgatar aquele tom de cor que você estava realmente enxergando no momento da foto.

Ajuste o balanço de brancos, a temperatura e a cor da imagem.

Passo 6: configure a exposição e o contraste

Normalmente, um pequeno aumento de exposição (geralmente + 0,3) ajuda a realçar os detalhes de tons médios da imagem. Use a ferramenta exposição até que você consiga a aparência desejada. 

Importante: se a imagem ficou subexposta (muito escura), o aumento da exposição poderá causar ruídos (“granulado”), o que reduz a qualidade da imagem. Com relação ao contraste, comece aumentando um pouco o ajuste (entre + 25 e + 30). Tenha em mente que o aumento exagerado de exposição e contraste pode deixar a imagem artificial!

Ajustando a exposição e o contraste.

Passo 7: configure os brancos e os pretos

Ajuste os pontos brancos e pretos se você julgar necessário. Isso ajuda a aumentar a variação dinâmica da imagem. Contudo, nem sempre é preciso fazer tais ajustes. Tudo depende da cena fotografada e de como você quiser deixá-la. O aumento dos brancos combinado com a redução dos pretos irá aumentar o contraste da imagem.

O ajuste dos brancos e pretos pode influenciar no contraste.

Passo 8: ajuste os realces e as sombras

Ao mover o ajuste de realce para a esquerda, você pode recuperar algum ponto que ficou superexposto (muito claro) em sua imagem, o que pode ser útil, por exemplo, quando o céu ou o fundo da imagem (atrás da ave) fica “estourado” devido à contraluz. Movendo o ajuste para a direita, você poderá aumentar o brilho nas áreas mais claras. O ajuste de sombras serve para “abrir” (clarear) aquelas partes muito escuras da imagem, o que é feito ao mover o ajuste para a direita.

Importante: Tenha em mente que se você “abrir” demais as sombras, os ruídos (“granulados”) das áreas sombreadas poderão vir à tona, o que não é desejável.

Ajuste de realces e sombras.

Passo 9: melhore a claridade e recupere as cores

Os arquivos RAW são opacos por natureza. Você precisa recuperar o contraste e as cores presentes na cena fotografada. O ajuste de contraste já foi abordado. O controle de claridade melhora o contraste local na imagem, o que resulta no aumento da sua nitidez aparente.

Importante: o excesso de claridade pode arruinar a imagem. Faça os testes e você irá achar o ponto ideal, tendo em mente que a ideia do processamento é ressaltar a beleza natural da ave, sem, contudo, alterar as suas características, ainda que ela possa ficar “mais bonita ou colorida”.

As cores, por sua vez, podem ser recuperadas de duas formas. Uma é usando o controle de vibração e a outra é por meio do controle de saturação. O primeiro afeta apenas as cores saturadas, enquanto o segundo aumenta todas as cores. O ajuste de vibração, de acordo com Prathap, parece funcionar melhor em fotografias de natureza. Aqui, mais uma vez, sinta-se à vontade para fazer os seus testes.

Os ajustes de claridade, vibração e saturação servem para recuperar a core deixar a imagem mais vibrante ou impactante.

Passo 10: reduza o ruído

O processamento está quase completo. Falta apenas (se for o caso) reduzir o ruído e recuperar a nitidez da imagem. A redução do ruído (“granulado”) depende muito das configurações de ISO e de quanto ruído efetivamente aparece na imagem. A correlação ISO x Ruído também depende da qualidade da câmera, mas, via de regra, um ISO mais alto (necessário em situações de pouca luz), produz mais ruídos. Assim, quanto maior for o ISO utilizado, mais você terá que trabalhar na redução de ruídos da imagem.

Importante: há um limite para a redução de ruído, pois a redução exagerada poderá transformar a ave em um “boneco de cera”, devido à ausência de detalhes. No caso da câmera Canon EOS Rebel T5, por exemplo, um ISO acima de 400 já começa a afetar a imagem com ruído, o que é sempre mais perceptível em um cenário com pouca textura (céu azul, por exemplo) e menos visível em outras situações (árvores, folhas etc.). Outras câmeras até suportam ISOs mais altos antes de revelarem ruídos indesejáveis. Faça o teste deslizando o controle até o máximo e perceba a modificação da foto, que pode ficar irreconhecível.

Para mostrar o processo, na imagem abaixo houve redução de ruído (controle de luminância) em 5 pontos.

Reduzindo ruído: o exagero pode transformar a ave em um “boneco de cera”.

Passo 11: nitidez

A imagem em formato RAW não possui nitidez. Você precisa ajustá-la para recuperar a nitidez que estava presente na cena fotografada, bem como para recuperar os detalhes na plumagem da ave. Muitos fotógrafos tendem a exagerar na nitidez, o que pode fazer com que a imagem pareça artificial, prejudicando a beleza natural da cena. Normalmente, a quantidade de nitidez dependerá do equipamento que você usa, especialmente das lentes. Portanto, tente diferentes ajustes de nitidez para descobrir a melhor configuração em cada caso.

Prathap recomenda um ajuste de nitidez entre 40 e 50 para manter a imagem bem balanceada. Você pode usar a ferramenta “máscara” para deixar de aplicar a nitidez às áreas não desejadas ao fundo. Mantenha a tecla “alt” pressionada enquanto você ajusta o controle de máscara para ver como funciona (na imagem abaixo, a área escura não será afetada pelo controle de nitidez, permitindo aplicá-lo somente à área desejada: a ave).

Use a ferramenta “máscara” para deixar de aplicar a nitidez às áreas não desejadas, evitando excessos.

A diferença pode não ser tão perceptível quando a imagem original já apresentar boa qualidade, o que nem sempre acontece.

Antes e depois

Pressione a tecla “Y” para visualizar a tela “antes e depois”. Você também pode clicar no botão “Y|Y” no canto inferior esquerdo da sua tela. Pressione “Y” novamente para visualizar apenas a imagem processada.

Comparando o “antes” e o “depois”.

Passo 12: exportando a imagem processada

Após concluir o processamento, é hora de exportar a imagem (arquivo JPEG) para a pasta desejada. Há diferentes formas de realizar esse comando. O mais simples é clicando em “arquivo” e depois em “exportar” (você também pode usar o atalho CTRL + SHIFT + E). Depois, basta escolher a pasta de destino.

O momento da exportação serve para configurar a resolução de saída da imagem, o que depende da mídia em que a foto será publicada. A publicação em redes sociais não demanda alta qualidade, mas a impressão sim, principalmente em se tratando de fotografia/quadro de grandes dimensões. Lembre-se: o LR não altera o seu arquivo original, mas cria um novo arquivo a cada exportação, portanto, não tenha receio de fazer várias exportações com configurações distintas.

Imagens para impressão
Na sessão “Configurações de arquivos”, um ajuste de qualidade máxima (100) é o ideal para impressão. Quanto ao “Espaço de cor”, aconselha-se o uso do padrão sRGB, que é o mesmo usado pelos laboratórios fotográficos. Na seção de “Dimensionamento de imagem”, recomenda-se marcar a opção “Altura e largura”, utilizando a medida que for necessária para impressão. Digamos que seja 30 cm de altura por 20 cm de largura, lá você ajustará isso. A “Resolução” para impressão deve ser alta, ficando um bom ajuste em 300 ppi (pixels por polegada)A “Nitidez de saída” pode ser papel fosco ou brilhante, a depender do papel a ser utilizado na impressão, sendo a “Intensidade” alta a configuração mais apropriada.

Imagens para publicação na internet

Não são necessárias alterações quanto à qualidade, que pode continuar no máximo. Mas caso você queira uma imagem mais leve possível, a qualidade pode ser reduzida por exemplo a 80. Quanto ao dimensionamento, a opção “Altura e largura” novamente ficará a critério do tamanho da imagem que o usuário desejar, lembrando que para monitores a imagem não precisará ser muito grande (30 cm x 20 cm deve ser suficiente na maioria dos casos). A “Resolução” é certamente o ajuste que mais será alterado, ficando agora muito mais baixo do que para imagens impressas. Um ajuste em apenas 72 ppi é o suficiente para deixar a imagem com boa qualidade para publicação em meios digitais, incluindo sites e redes sociais. A “Intensidade”, por usa vez, pode ser deixada como alta, ou, se preferir uma imagem mais leve, deixar marcada como “padrão”.

Se for do seu interesse, você poder ler mais sobre o tema no seguinte artigo: “Como exportar fotos corretamente no Lightroom.

Acessando as configurações de exportação.

Configurando qualidade, dimensionamento e nitidez de saída.

Conclusão 

Tenha sempre em mente que os exageros nos ajustes podem estragar a imagem. Em se tratando de fotografia de natureza, e principalmente de aves, o pós-processamento deve ser utilizado apenas para recuperar os detalhes, o contraste, o brilho, as cores e a nitidez da cena captada pelo fotógrafo. Por isso, é aconselhável manter a foto tão fiel à realidade quanto possível. As técnicas de pós-processamento de fotografias de paisagem nem sempre se aplicam ao pós-processamento de fotos de aves, que tem outro objetivo. Por isso, mantenha a simplicidade.

Aqui, vale a pena lembrar uma dica de Prathap: processe a sua imagem e deixe-a de lado (não a publique ainda). Analise a imagem processada alguns dias depois (mesmo no caso de um lifer há muito desejado) e veja se você ainda acha ela boa o bastante para ser publicada. Com a prática, você terá resultados cada vez melhores. Para Prathap, menos é mais.

Tenha em mente, ainda, que não é necessário seguir a ordem dos passos da maneira como foi proposta neste post, bem como que nem sempre todos os passos serão necessários, pois muitas vezes a imagem original pode ter ficado boa o bastante para ser publicada ou impressa.

Esperamos que você tenha gostado dessas dicas. Elas são úteis e podem lhe ajudar a apreciar ainda mais o resultado de sua atividade de observação e fotografia de aves.

Um abraço!
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Veja também

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6 comentários:

  1. Parabéns pelo post Adaltro e Dante! Explicações claras e objetivas!

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  2. Ótima postagem, muito informativa, parabéns!

    Ass.:Lucas N de Porto Alegre - RS

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  3. Espetacular esse guia.
    Acabei de fazer uma viagem de observação e certamente terei muitas fotos para testar.
    Muitíssimo obrigado.

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