Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Passarinhando entre origens, campos e matas!

* Por Luana Almeida e Dante Meller

Pica-pau-de-banda-branca. © C.Boufleur.
Já faziam alguns dias que programávamos a saída a campo em São Miguel das Missões, local histórico para o povo gaúcho.

Fizemos o convite para o evento de maneira pública na página do Ave Missões no facebook, o que pôde atingir um número maior de interessados.

A saída foi bastante movimentada, com a presença de 15 participantes, um número que ainda não havíamos atingido nos últimos tempos de Grupo Ave Missões, aumentando ainda mais a expectativa dos participantes...

Alguns amigos passarinheiros que há tempos não “davam o bico” também resolveriam comparecer, então todos tínhamos boas razões para esperar o dia ansiosamente... Pelo fato de rever as amizades e ainda por outro motivo bastante simples: passarinhar em meio à natureza, verdadeiramente, NOS FAZ BEM! Também era previsto um café da manhã no hotel Tenondé, bem como um almoço campeiro na Fazenda da Laje, onde iniciamos nossa saída a campo, então... literalmente juntamos a FOME com a vontade de PASSARINHAR! Ops, de COMER!

Grupo Ave Missões em caminhada pelos campos da Fazenda da Laje, em São Miguel das Missões. © Luana Almeida.

Os dias que precederam aquele sábado foram chuvosos, e não sabíamos ao certo se teríamos as condições meteorológicas ideais. As previsões do tempo, contudo, eram bastante animadoras! Dito e feito! Pudemos acompanhar o nascer de um lindo dia de sol, pegando a estrada, pois a saída era cedo, no caso de Santo Ângelo estava prevista para as 6:15 da manhã!

Chegando em São Miguel das Missões, a primeira parada foi no Hotel Tenondé para um delicioso e variado café da manhã (vale à pena conhecer e desfrutar de seu conforto!). Como a caminhada seria longa, precisávamos estar bem alimentados!

Fomos, então, em uma caravana de 5 carros, que levaram os 15 participantes, oriundos de Cruz Alta, Santo Ângelo e Santa Rosa, até a Fazenda da Laje. Lá, fomos guiados pelo amigo e guia Alfieri Callegaro, leia-se Atairu Aventura.


Pedras remanescentes semelhantes às utilizadas nas construções jesuítico-guaranís. © Gracieli Dall Ostro Persich.

Em meio a muita história - estampada em pedras que tivemos o prazer de contemplar - cultura local, e ainda sobrando espaço para algumas lendas contadas com humor pelo nosso guia do dia, pudemos observar 71 espécies de aves em meio a um ambiente bastante característico de nossa região: a transição entre resquícios de mata atlântica e campos do pampa. As saíras (num primeiro momento a preciosa, e à tarde, em outra localidade, a viúva), o bico-chato, a borboletinha-do-mato e o pica-pau-anão-de-coleira, que, apesar de pequeninos, encantaram os olhares por entre as matas ciliares percorridas.

Bico-chato-de-orelha-preta (Tolmomyias sulphurescensna fazenda da laje© Luana Almeida.

Borboletinha-do-mato (Phylloscartes ventralis) na fazenda da laje.

Pica-pau-anão-de-coleira (Picumnus temminckii).

Saíra-preciosa (Pipraeidea melanonota) na fazenda da laje.

Já em ambiente de campo e áreas alagadas, além de outras espécies, chamaram a nossa atenção o cochicho e a narceja. Mas o que fez o nosso coração vibrar mesmo foi uma família de marrecas pé-vermelho, não pela raridade da espécie, pois ela é até comum, mas pela beleza do momento. É maravilhoso ser expectador dessa natureza toda acontecendo diante dos nossos olhos! Reproduzindo, dando frutos e patinhos na lagoa! Instantaneamente, a gente sorri!

Família de marrecas pé-vermelho (Amazonetta brasiliensis). © Pedro Sessegolo.

Após a família de marrecas tivemos, ainda, o privilégio de observar um casal de falcões-de-coleira sobrevoando as nossas cabeças. Outras aves de rapina já haviam sido avistadas, como o gavião-caboclo, o chimango e o gavião-miúdo! O horário quente do meio dia é bastante favorável para esse grupo de aves, então é bom mesmo se manter atento e com os olhos voltados para o céu, e se alegrar com as maravilhas do Senhor!

Gavião-miúdo (Accipiter striatus) de papo cheio. © Charles Boufleur.

Falcão-de-coleira (Falco femoralis) com presa nas garras.

É interessante como uma atividade de observação de aves pode nos conectar com as diferentes formas de vida presentes no ambiente, e neste dia uma de nossas participantes tinha olhares bem atentos para outros seres: os fungos!


Fungos do gênero Cyathus, que imitam ninhos de aves com ovos. Como estratégia reprodutiva, ao pingar gotas da chuva, liberam esporos no interior dos "ovinhos". © Gracieli Dall Ostro Persich.

Sobrou fôlego? Esperamos que sim! Pois isso tudo foi durante o turno da manhã! À tarde ainda nos esperavam outras matas! Mas, primeiro, PAUSA PARA O ALMOÇO, que foi preparado pelo simpático pessoal da Fazenda da Laje. Estava uma delícia! Mas... não restaram palavras para descrever a sobremesa: Chico-balanceado! hm... O segredo, disse a Mana (quem nos recebeu e providenciou o almoço), são os ovos e o leite, retirados da produção da própria fazenda!

Depois do almoço não deu para ficar muito tempo parado não! Primeiro porque o sono ia acabar nos alcançando (haviam redes em gostosas sombras a nos seduzir), e porque um grupo de tiribas já se exibia muito perto da casa onde havíamos almoçado! Agora, a pausa foi para as fotos dessa espécie de verde exuberante!


Tiriba-de-testa-vermelha se alimentando de frutos de cinamomo na sede da Fazenda da Laje.

De volta aos carros, fomos até outra área de mato, que denominamos “mata do Piratini”, em virtude de o Rio Piratini correr em meio à sua floresta! Lá pudemos observar, entre outras aves, a saíra-viúva.


Saíra-viúva (Pipraidea melanonota) no mato do Piratini.

Também foram ouvidos nesse mato a tovaca-campainha e a marianinha amarela, que representou o registro mais significativo do dia, já que é uma espécie ameaçada de extinção no RS. A foto, no entanto, vai ter que ficar pra próxima, pois a ave ficava sempre no alto das taquaras-bravas que dominavam um trecho da floresta. Foi gravado, no entanto, seu canto, que pode ser ouvido aqui

Pudemos contemplar ainda a beleza dessa extensa mata (cerca de 600 ha!!!) de forma mais profunda, pois sobrou tempo (ainda bem) para uma pausa na costa do Rio Piratini e um breve descanso da caminhada! O retorno nos esperava, e, para isso, ainda haveria de nos sobrar disposição!

Mata do Piratini - cerca de 600 ha em um só bloco e com conexão de matas ciliares.


Felizmente, tudo correu bem! E todos retornamos para nossas casas em segurança! Desse dia ficaram muitas lembranças saborosas! E eu (Lu) não estou falando do Chico-balanceado! Mas lembranças de um dia que, em meio a chuvas, se fez nascer o sol, e com ele toda a natureza pôde se fazer encantar! Simplesmente para nos lembrar que ELA PERMANECE VIVA, faça chuva ou faça sol!

Pernilongo-de-costas-brancas (Himantopus melanurus) no caminho de volta com o reflexo do fim da tarde.

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Veja também:

As aves quando voam deixam saudade...
Aves em São Miguel das Missões
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8 comentários:

  1. Parabéns Grupo Ave Missões pelas belas fotos dessas lindas aves do nosso estado,o RS !!! Gostei muito da foto da família de Pé vermelho e da Saíra viúva !Ass:Lucas N

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  2. Que delícia de passarinhada. Parabéns pela gostosa descrição.

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  3. Bela passarinhada! Já estou com saudade dessa região, quem sabe em novembro eu passo por aí Dante!

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  4. Parabéns ao Grupo Ave Missões, pelas esplêndidas fotos das aves, são lindas!! A natureza nos oferece esses tesouros que possuem asas!!

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