Projeto Ave Missões: Pesquisa, Educação Ambiental e Conservação com Aves da Região Noroeste do Rio Grande do Sul

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Tauató-pintado - Accipiter poliogaster

Accipiter poliogaster macho no PET. Foto: Dante Meller.
     O tauató-pintado é um dos gaviões mais raros e elusivos que habitam o Rio Grande do Sul e Brasil1,². Na verdade, muito pouco se sabe sobre a espécie, principalmente sua biologia reprodutiva. Registros atuais são bastante raros (ver wikiaves, por exemplo).
     Sabe-se, no entanto, que é uma ave ameaçada de extinção no território gaúcho, principalmente, devido à destruição de seu hábitat, que limita-se a extensas florestas bem preservadas, cada vez mais raras no RS². Possivelmente, o Parque Estadual do Turvo (PET) seja o último refúgio seguro da espécie no Estado, já que precisa de uma extensa área florestada para manter populações viáveis, pois a espécie tem baixíssima densidade populacional².
     Durante o Projeto Aves de Rapina do PET, tive dois encontros com esta rara espécie. Um deles, acabou por gerar uma boa discussão no site do wikiaves, onde alguns afirmariam se tratar de Accipiter bicolor e não A. poliogaster (foto acima). Apesar das contradições, na minha opinião e de outros, a identificação segue como um adulto macho A. poliogaster (veja aqui).

     A poucos dias atrás, porém, o registro de um jovem tauató-pintado tornou mais relevante o registro discutido acima (figura ao lado). Além de ser um gavião raro, é salientado, também, a semelhança que possui com algumas outras espécies. O caso mais notável é o jovem A. poliogaster mimetizar o adulto Spizaetus ornatus, um gavião bem maior e mais robusto. Outras espécies parecidas são Micrastur semitorquatus e A. bicolor³.
Jovem A. poliogaster no PET. Foto: Dante Meller.  
     O mais interessante, penso eu, foi como as coisas se ajeitaram para esse registro ser possível. Fazia dias que eu vinha pensando em reverter um pouco da experiência gratificante do trabalho de campo, em algum tipo de atividade de educação ambiental, em prol da conservação do PET.
     Numa manhã, então, após marcarmos a palestra em uma pequena escola do interior do município de Derrubadas, acordei cedo e tomei o rumo. Logo que saí do alojamento, encontrei pousado no alto de uma árvore o gavião que vemos nesta foto. A princípio, parecia um M. semitorquatus, mas depois que me aproximei a certeza veio: um tauató-pintado... e jovem! Que felicidade!
     O que havia de nervosismo e ansiedade pelo fato de dar a palestra, na mesma hora se transformou em euforia e animação. Foi um maravilhoso presente da mãe natureza. Ouso sugerir que toda pesquisa tenha algum tipo de atitude voluntária, em prol da educaçao e conservação. O problema parece não estar na má vontade das pessoas locais, e sim na falta de informação. Costuma-se dizer que só se ama aquilo que se conhece. Divulgar as riquezas naturais, após conhecê-las, é, enfim, um grande ato de reconciliação com a mãe Terra e um trabalho muito gratificante.

Referências

1 - Sick (1997)
2 - Bencke et al. (2003)
3 - Ferguson-Lees e Christie (2005)

2 comentários:

  1. Que lagal Dante!
    Parabéns pelo teu trabalho no Parque Estadual do Turvo!
    Sobre a ID do gavião que foi questionado no wikiaves, estou contigo, é sim Accipiter poliogaster. É igual ao macho do casal que eu e Gregory Thom acompanhamos na REBIO Estadual do Sassafrás, sendo a fêmea de coloração típica (ventre branco). O jovem que avistamos nos surpreendeu, porque não era exatamente igual a um Spizaetus ornatus, sendo que o ferrugíneo fechava a garganta e o peito também.

    Abraço,

    Adrian

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  2. Valeu, Adrian!

    Que bacana essas suas observações, especialmente essa do jovem diferente. Realmente é muito pouco conhecida ainda essa sp.

    Um grande abraço!

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